quinta-feira, 2 de maio de 2013

Filhos de um novo mundo


Estávamos sentados em círculo nas ruínas de alguma coisa que não é mais identificável. Resolvi fazer eco há alguns pensamentos:

— Vocês acreditam nas histórias que nosso bisavô contava?

— Qual delas? As sobre poderes sobrenaturais? Por que não acreditar? — Disse Azoi, nosso irmão mais novo.

— Não, aquelas sobre à Terra.

— Quer dizer as histórias de que as árvores eram verdes, podia-se beber água dos rios, o sol era pequeno e que as pessoas tinham tanta comida que jogavam fora?

— Isso — respondi. Todos começaram a rir. Anira, nossa única irmã falou:

— Você não está grandinho para acreditar nesses contos de fadas, Leriel?

— Não acho que sejam contos de fadas. Lembram-se das imagens no velho livro que ele nos mostrava?

— Eu lembro — confirmou Berti, nosso primo — se não me engano o bisavô sempre contava que o começo do fim foi quando a Colméia da Sorte atacou os Países Unidos da Amélia.

— Não era isso seu idiota — interrompeu Sueney, nosso irmão do meio — era Coréia da Morte e Estados Unidos da Coréia.

— Vocês homens são sempre burros. Era Coréia do Norte e Estados Unidos da América. O bisa falava que por causa desse ataque o mundo entrou em guerra e os desgraçados dos marguilanos aproveitaram e desceram das estrelas.

— Correto, irmã — falei —, e depois disso tudo foi destruído.

— Não sei se é verdade — com a boca cheia Aloni, o mais velho de nós, falou pela primeira vez — nem sequer consigo imaginar um lugar assim. É desse mundo cruel que somos filhos e não de uma terra fantasiosa. Conheço unicamente o agora e ele é horrível. E, se não matarmos esses malditos hoje mesmo, tudo ficará ainda pior. — Depois dessas palavras o silêncio passou a reinar.

A espera nos fez cochilar, Aloni acordou-nos sussurrando:

— Eles chegaram!

Subimos uma escada, aliás o que sobrou dela pois tinha apenas a metade, e escalamos até a parte de cima. No horizonte, três figuras vinham caminhando. Eram altas, com a pele esbranquecida, os pés eram semelhantes às mãos, quatro dedos alongados que apertavam a areia ao caminhar. Como tinham a pele bastante resistente não usavam roupas, conversavam tranquilamente em sua estranha língua.

— São esses que você viu vindo pela estrada, Anira? — Perguntei.

— Sim, irmão. Vejam vocês mesmos, eu disse que tinha um gordo entre eles e não acreditaram. — Azoi riu daquilo:

— É a primeira vez que vejo um marguilano gordo, é engraçado.

— Eles estão armados — observou Berti.

— Chega de conversa, vamos. Façam tudo como planejamos. — Bradou Aloni já pulando do primeiro andar sobre uma grande duna de areia. Todos o acompanharam. Eu fiquei, pois era o único que não sabia lutar, minhas habilidades eram outras.

Lá de cima observei toda a ação. Foi rápido. Portando uma faca Sueney pulou sobre o primeiro, os dois começaram a rolar pelo chão e o marguilano levou a pior ficando com a lâmina cravada no pescoço. O segundo tentou puxar a arma mais foi transpassado por uma lança de Berti. Azoi corajoso como sempre avançou contra o grandalhão, mas ele ainda era apenas um garoto e foi dominado. Sueney intercedeu e os dois brigaram por algum tempo, foi quando o homem sacou sua arma e apontou, tremi de medo pensando que assistiria a morte dele, mas Anira que tinha uma pontaria invejável acertou um tiro de laser direto na testa do gordo.

Após o combate embalamos bem os corpos e arrastamos durante todo o dia seguinte até chegarmos ao nosso lar, cavado no centro da montanha depois que naves marguilanas desintegraram nossos pais, o local era de difícil acesso e suamos bastante. Sueney jogou-os na sala e falou:

— Agora é contigo, Leriel.

Puxei os três mortos até minha sala. Bradei:

— Anira e Azoi venham me ajudar. — Depois de muito reclamarem eles vieram. Com facas bem amoladas retiramos a pele dos extraterrenos.

— Darão ótimas capas — falou Azoi.

— Vou fazer uma linda. — Completou Anira.

— Ei, cuidado com o gordão Azoi, retire a gordura e coloque nas gavetas, e o restante corte em bifes.
— Sanira pegue esses dedos e faça um caldo, onde está o sangue deles?

— No tambor branco. — Ela respondeu.

Depois de limparmos e desossarmos, cortamos toda a carne. À noite nos sentamos em volta da fogueira. Berti, lambendo os dedos disse:

— Ninguém faz um guisado de marguilano igual a você, Leriel.

— Obrigado, primo. O bom é que de quebra ainda nos livramos de três invasores — ele respondeu com um sorriso. Sueney olhou-me e falou:

— O povo das suas fantasias podia ter muita comida, mas duvido que tenham comido uma carne tão maravilhosa. — Encheu uma caneca com sangue, pois como os marguilanos possuíam toda a água do planeta, isso era o que restava-nos, e exclamou:

— Proponho um brinde a essa maravilhosa caça.

E assim bebemos, comemos e garantimos mais algumas semanas de sobrevivência. E vendo aquele banquete ficou mais difícil de acreditar nas velhas lendas do nosso bisavô, afinal que raça seria idiota o bastante para destruir algo tão belo quanto aquelas fotos e condenar seu povo a uma existência tão sofrida?

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